Quadro Clínico
Pode-se dizer que a Toxoplasmose apresenta diferentes manifestações clínicas conforme o indivíduo acometido:
Pacientes imunocompetentes - curso da doença geralmente benigno e autolimitado. Os sintomas, quando presentes, desaparecem em poucos meses ou no máximo em 1 ano.
Adquirida ou reativada em pacientes imunodeprimidos - pode apresentar-se assintomática ou associada a doenças não específicas (SNC, miocardite,pneumonite). Há risco de disseminação fatal com envolvimento cerebral e morte. Em pacientes com AIDS, a reativação da doença é mais frequente.
Congênita - gravidade conforme trimestre de infecção.
Toxoplasmose adquirida em pacientes imunocompetentes:
As manifestações clínicas da toxoplasmose adquirida são variadas e podem resultar entre extremos de casos benignos ou assintomáticos, conforme ocorre com a maioria dos indivíduos afetados, até casos de morte. Assim, pode-se dizer que as formas clínicas da toxoplasmose pós-natal são diretamente dependentes de fatores como a virulência da cepa e o sistema imune do hospedeiro.
1. Forma Ganglionar ou Febril aguda: é a mais frequente e consiste em um comprometimento ganglionar linfático (generalizado ou não) associado à febre alta e dores no corpo = quadro clínico semelhante a uma gripe, encontrado tanto em adultos como crianças, de curso em geral autolimitado e benigno (que pode, eventualmente, causar complicações).
2. Forma ocular: é manifestada principalmente em coriorretinite, a lesão mais frequentemente associada à toxoplasmose. Acredita-se que a coriorretinite é uma complicação tardia de uma infecção intrauterina. Resulta de infecção aguda por taquizoítos na retina ou de reativação de cistos ali presentes. Podem, também, surgir outras infecções e complicações oculares e todas podem evoluir para cegueira parcial ou total, ou seguir para cura por cicatrização.
3. Forma cutânea ou exantemática: resulta em lesões variadas na pele, geralmente com lesão macular e papular não pruriginosa. A erupção é difusa ou localizada e, em geral, surge no tórax, desaparecendo em poucos dias. Pode haver descamações ou cicatrizes, se ocorrer formação de vesículas. Embora raramente seja encontrada, é uma forma associada à evolução rápida e prognóstico fatal.
4. Forma nervosa, cerebroespinhal ou menigoencefálica: encontrada com frequência em pacientes imunocomprometidos, em especial nos acometidos pela SIDA, quando os cistos latentes adquiridos em infecção prévia são reativados. Os parasitos invadem o tecido nervoso e causam múltiplas lesões, que podem evoluir para estupor, coma e até morte do paciente.
5. Forma pulmonar: resulta geralmente em lesões pulmonares, mas pode causar pneumonias atípicas com evolução benigna ou grave.
6. Forma generalizada: embora rara, possui evolução fatal em indivíduos
imunocompetentes.
Toxoplasmose congênita
A toxoplasmose congênita, também referida como transplacentária ou pré-natal, consiste na doença transmitida ao feto pela gestante que esteja na fase da toxoplasmose aguda ou raramente mediante alguma imunodepressão que reative cistos latentes. As consequências para o feto são variadas, dependendo do período gestacional, do grau de exposição desse ao parasito, da virulência da cepa e do potencial protetor dos anticorpos maternos. Por conseguinte, gestantes acometidas podem sofrer abortamento fetal até dar origem a crianças sadias; entre esses extremos, há inúmeras anomalias e sequelas possíveis, além de partos precoces de urgência. Esquematicamente, podemos separar as diversas alterações clínicas conforme o trimestre em que ocorreu a contaminação. Na contaminação no primeiro trimestre de gestação, o mais comum é que ocorra abortamento espontâneo. Após o primeiro trimestre, o bebê poderá ser prematuro ou a gestação ir a termo, dando origem a natimorto ou nativivo, com manifestações que podem ser neurológicas (como convulsões, espasticidade, microcefalia e hidrocefalia); oculares (a mais significativa é a coriorretinite, evidenciada na maioria dos casos), ou até sinais e sintomas digestivos, respiratórios e cutâneos. Devem ser pesquisadas, ao exame físico, hepatomegalia esplenomegalia, icterícia e erupção cutânea. Como orientação para a toxoplasmose congênita tem lugar de destaque a chamada Tétrade de Sabin, apontando as complicações que mais frequentemente ocorrem em bebes contaminados intrauterinamente:
Coriorretinite bilateral acompanhada de estrabismo convergente (90%)
Modificações do volume craniano - Hidrocefalia ou microcefalia (50%)
Calcificações intracranianas difusas ou em placas (70%)
Convulsões e retardo mental (25 a 50%)
Diagnóstico laboratorial:
Como os primeiros anticorpos a serem produzidos após a infecção são os da classe IgM, adquirem importância no diagnóstico. Podem ser usados os seguintes testes:
- Imunoensaio enzimático ou ELISA: é um dos mais utilizados para determinar a fase da infecção (detecta anticorpos IgM, IgG e IgA)
- Reação de Imunofluorescência indireta (RIFI): grande sensibilidade e segurança e usado tanto na fase aguda (IgM) quanto na crônica (IgG).
- Hemaglutinação indireta (HAI): usado mais em levantamentos epidemiológicos por sensibilidade e simplicidade de execução pois não detecta diagnóstico precoce ou toxoplasmose congênita.
Importante combinar.
OBS: a adequada combinação da anamnese, exame físico e exames laboratoriais será importante o diagnóstico definitivo e para a posterior conduta médica.
Indicações para pesquisa de IgM específica:
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Pacientes imunocompetentes apresentando
linfadenopatia, febre, mal-estar, linfocitose atípica, descartando mononucleose
infecciosa.
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Pacientes com altos índices de anticorpos da classe IgG antitoxoplasma, para diagnosticar doença aguda.
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Gestantes com sinais clínicos de Toxoplasmose aguda.
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Pacientes com coriorretinite
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Recém-nascidos de mães com toxoplasmose ou sinais de infecção congênita.
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Pacientes imunodeprimidos com encefalite, meningoencefalite ou lesão expansiva intracraniana.
Tratamento
Atualmente, a toxoplasmose é considerada incurável devido à persistência dos cistos nos tecidos do hospedeiro, pois os medicamentos atualmente disponíveis não são capazes de eliminar os bradizoítos contidos em seu interior. Assim, o objetivo terapêutico das medicações contra toxoplasmose visa combater os trofozoítos (forma proliferativa responsável pelas manifestações clínicas). Destaca-se, todavia, que devido aos efeitos tóxicos e à incapacidade de combater cistos latentes, a medicação somente deverá ser aplicada a casos agudos sintomáticos, como em gestantes em fase aguda,
pacientes com toxoplasmose ocular ativa e em imunodeficientes.
Profilaxia
Não ingerir carne crua ou malcozida (carne congelada ou cozida a mais de 67ºC evitam a contaminação);
Controle dos dejetos de gatos, com incineração de fezes e proteção de caixas de areia pública;
Exame pré-natal para toxoplasmose em todas as gestantes e tratamento de grávidas em fase aguda da doença.
Agente Etiológico
O Toxoplasma gondii é o agente causador da toxoplasmose, doença primitiva dos felídeos que se propagou a várias espécies animais e aos humanos.
Epidemiologia
A toxoplasmose é doença de distribuição geográfica mundial, encontrada em quase todas as nações e classes sociais. Embora apresente alta prevalência sorológica, podendo atingir mais de 80% da população em alguns países, cabe destacar que a forma clínica é bem menos frequente. Felídeos domésticos e selvagens são os únicos animais que realizam o ciclo sexuado da doença, eliminando após a primo-infecção milhões de oocistos imaturos por aproximadamente 30 dias, que contaminam o solo e a água. O carnivorismo, (através da ingestão de carne crua ou malpassada que contenha cistos de bradizoítos) também é responsável pela alta prevalência.
Transmissão
O homem adquire a toxoplasmose principalmente: pela ingestão de oocistos maduros, liberados nas fezes dos gatos, presentes em jardins, caixas de areia, água ou alimentos contaminados; quando ingere cistos em carne crua ou malcozida; e congenitamente, via transplacentária. Destaca-se, todavia, que acidentes de laboratórios, inalação de oocistos, transfusão sanguínea quando o doador está na fase aguda da doença e até ingestão de leite cru de cabra contaminada são formas possíveis de transmitir a doença.
OBS: oocistos são eliminados por aproximadamente 30 dias após a contaminação do felideo e não por sua vida inteira.
Posição Sistemática
Reino: Protozoa
Filo: Apicomplexa
Classe: Conoidasid
Ordem: Eucoccidiida
Família: Sarcocystidae
Gênero: Toxoplasma
Habitat e Morfologia
O Toxoplasma gondii pode ser encontrado em vários tecidos, células e líquidos orgânicos de diversos animais. Sua morfologia varia conforme o habitat e o estágio do ciclo evolutivo. Nos felídeos, são encontradas tanto formas do ciclo sexuado como do ciclo assexuado.
- Forma Taquizoíto ou Trofozoíto: é encontrada durante a fase aguda da infecção, onde ocorre intensa e rápida proliferação do parasito. Apresenta formato de banana ou meia-lua, com uma das extremidades mais afilada e a outra mais arredondada, medindo 4 a 9 μm X 2 a 4 μm. Possui um complexo apical anterior composto por diversas organelas que auxiliam sua penetração nas células. São encontrados em células do sistema mononuclear fagocitário, em células hepáticas, pulmonares, nervosas, submucosas e musculares, além de estar presentes em líquidos orgânicos e excreções. Têm, todavia, baixa resistência à ação do suco gástrico do hospedeiro.
- Forma cística: trata-se da forma de resistência do parasito, com uma parede resistente e elástica que o isola da ação dos mecanismos imunológicos do hospedeiro. Contém bradizoítos no seu interior, formas que medem 2X7μm e possuem relativa similaridade aos taquizoítas. É encontrada no sistema nervoso, na retina, e nos músculos esquelético e cardíaco. Em geral, é a forma presente durante a fase crônica da infecção. Os bradizoítos se multiplicam lentamente dentro do cisto por endodiogenia e esse pode atingir até 300 μm.
- Oocisto: trata-se da forma de resistência excretada pelos felídeos não-imunes que possui uma parede dupla bastante resistente às agressões do meio ambiente. São produzidos nas células intestinais desses animais e liberados
junto com as fezes, contaminando a água e o solo. Apresenta-se em forma esférica e mede cerca de 12,5 X 11 m. Em seu interior, contém 2 esporocistos dentro dos quais se encontram 4 esporozoítas.
- Microgameta e macrogameta:
Consistem nas formas sexuais. O microgameta é flagelado e extremamente
móvel; o macrogameta é globoso e imóvel. São encontrados somente nos
felídeos e irão originar os oocistos.
Imagem original disponível neste link.
Imagem original disponível neste link.
Contato
Reprodução
A reprodução do parasito no homem ocorre por endodiogenia (brotamento
interno), processo de reprodução assexuada em que há divisão inicial do núcleo e só após o citoplasma inicia a divisão, quando se formam 2
taquizoítos. Nos felídeos, a reprodução é sexuada, por meio da fecundação do
macrogameta pelo microgameta que originará o zigoto. Normalmente, oocistos são expulsos nas fezes. Este contém em seu interior duas células com 2 esporozoítos em cada e amadurece em um a cinco dias, quando se tornará
infectante.