Agente Etiológico
Entamoeba histolytica
Epidemiologia
Estima-se que mais de 10% da população mundial esteja infectada por E. dispar e E. histolytica, sendo esta última a espécie patogênica causadora da amebíase, grave problema de saúde pública referido como a 2ª maior causa de mortes por etiologia parasitária (100 mil mortes / ano). A distribuição da doença é mundial, mas ocorre principalmente em climas tropicais e subtropicais. No Brasil, a maior prevalência está na região norte. Em locais de saneamento básico precário, a incidência da doença aumenta. Além disso, a gravidade da doença também varia entre regiões e países, sendo maior no México e em alguns países da África e do sudeste asiático. No Brasil, casos de maior gravidade encontram-se na região amazônica. A amebíase é mais comum em adultos e algumas profissões são mais atingidas (como trabalhadores de esgoto). Os cistos são resistentes – permanecem viáveis ao abrigo da luz solar e em condições de umidade durante cerca de 20 dias.
Formas de Contaminação
A transmissão ocorre por via fecal-oral e ocorre pela ingestão de cistos maduros, através de água sem tratamento (contaminada por dejetos humanos) e de alimentos contaminados (como alface, agrião, morango, dentre outros).
Habitat
Na forma intestinal da amebíase, o habitat é o intestino grosso. Nas formas extra intestinais, o protozoário pode atingir o fígado, a pele (região perianal), o cérebro e os pulmões.
Prevenção e Controle:
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Combate à transmissão fecal-oral da doença pelo correto tratamento dos doentes, saneamento básico e educação sanitária.
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Os cistos não são mortos por sabão ou baixas concentrações de cloro ou iodo. Portanto, a água de áreas endêmicas deve ser fervida por pelo menos 1 minuto e os vegetais lavados em sabão detergente e embebidos em ácido acético por 10 a 15 minutos antes de serem consumidos.
Contato
Quadro clínico
É importante destacar que 90% dos casos são assintomáticos. As formas sintomáticas podem ser intestinais ou extra intestinais.
Formas intestinais:
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Colites não disentéricas: caracteriza-se por duas a quatro evacuações, diarreicas ou não, por dia, com fezes moles ou pastosas, às vezes contendo muco ou sangue. Pode apresentar desconforto abdominal ou cólicas. Há alternância entre a manifestação clínica e períodos com funcionamento normal do intestino.
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Colites amebianas: apresenta cólicas intestinais e diarreia, com evacuações mucossanguinolentas acompanhadas de cólicas intensas e de tremores. O paciente evacua cerca de 10 vezes por dia.
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Colite necrotizante: ocasionalmente, os trofozoítos perfuram a parede intestinal (úlcera). A liberação do conteúdo intestinal para a cavidade abdominal produz dor intensa e peritonite. A invasão do apêndice pode causar uma forma leve de apendicite. A cirurgia de retirada do apêndice pode provocar a disseminação de trofozoítos por toda a cavidade abdominal. A evacuação é mucossanguinolenta e tem “odor de ovo podre”.
Formas extra intestinais:
Os cistos gerados pelas divisões dos trofozoítos no intestino caem na circulação sanguínea através das ulcerações intestinais e invadem outros tecidos, onde se alimentam de hemácias, provocando abscessos em órgãos como fígado, pulmões ou cérebro.
Observação: o ameboma consiste em um grande nódulo na parede intestinal causada pela invasão de trofozoítos na parede intestinal e sua posterior cicatrização com tecido granuloso. Pode provocar obstrução intestinal e ser confundido com câncer.
Diagnóstico Laboratorial
Exame Parasitológico de Fezes: 3 a 6 amostras de fezes. Pesquisa-se trofozoítos nas fezes liquefeitas e cistos nas fezes sólidas; PCR e ELISA são utilizados para diferenciar E. histolytica de E. dispar.
Um proctoscópio (tubo de visualização flexível) pode ser utilizado para o exame do interior do reto e a coleta de uma amostra de tecido de qualquer úlcera que seja detectada nessa área.
Os indivíduos com um abcesso hepático quase sempre apresentam concentrações séricas elevadas de anticorpos contra o parasita. No entanto, como esses anticorpos podem permanecer no sangue durante meses ou anos, as concentrações de anticorpos não indicam necessariamente a existência de um abcesso. Por essa razão, quando um médico suspeita de um abcesso hepático, ele pode prescrever um medicamento amebicida. Quando o medicamento é eficaz, considera-se que a amebíase é o diagnóstico correto. Para avaliar a existência do abscesso, exames de imagem são utilizados.
Tratamento:
A identificação precoce da doença e seu correto tratamento são essenciais para o controle da doença. O tratamento pode incluir terapia farmacológica, intervenção cirúrgica e medidas preventivas. Considerável parcela dos portadores da doença pode ser tratada no ambulatório. Entretanto, algumas condições clínicas mais graves podem demandar internação hospitalar, como em casos de:
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Colite grave e hipovolemia que requerem reposição volêmica intravenosa (IV);
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Abscesso hepático etiologia incerta ou não responsivo à terapia empírica;
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Colite fulminante que requer avaliação cirúrgica;
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Peritonite ou suspeita de ruptura de abscesso hepático amebiano;
Agentes imidazólicos (metronidazol, tinidazol, secnidazol) são os escolhidos para combater as formas invasivas teciduais da doença, sendo o metronidazol é o principal fármaco de suporte para tratamento da amebíase invasiva. Todavia, como tais agentes são ineficazes em destruir os cistos e trofozoítos presentes no lúmen intestinal, fármacos de ação intraluminal devem ser associados (Teclozan ou Etofamida).
A terapia farmacológica também é recomendada para portadores assintomáticos, visto que esses são transmissores de cistos e dado o risco de evolução da doença para forma invasiva. Fármacos de ação intraluminal (como paromomicina, iodoquinol e furoato de diloxanida) são os mais adequados nestes casos.
Antibióticos de amplo espectro podem ser associados para tratar superinfecções bacteriana em casos de colite amebiana fulminante e suspeita de perfuração.