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   Presentes em grande diversidade no ecossistema brasileiro, os aracnídeos são artrópodes constituídos por um corpo fundido em abdome e cefalotórax. Possuem 4 pares de patas, são destituídos de antenas e apresentam em sua porção anterior peças bucais denominadas quelíceras e pedipalpos. A classe Arachnida apresenta 3 importantes ordens de interesse médico: Scorpiones, onde encontramos os escorpiões, Araneída, à qual pertencem as aranhas, e a Acari, que inclui carrapatos e ácaros. As duas primeiras serão abordadas nesta sessão. 

Acidentes Aracnídicos

Acidentes  por aranhas

    Embora aranhas e  escorpiões sejam classificados como animais peçonhentos, nem todos possuem a capacidade de causar sérios danos em humanos.  No contexto brasileiro, destacam-se apenas três gêneros de aranhas perigosas: Loxosceles (aranha marrom), Phoneutria (aranha armadeira) e Latrodectus (viúva negra).

                          ____________________ Phoneutria  - Aranha armadeira __________________
    A Phoneutria possui coloração marrom-acinzentada e pode atingir até 15 cm de envergadura. Recebe o nome popular de aranha armadeira porque se coloca em posição de ataque quando ameaçada, saltando até 40 cm de distância. Não produz teias e costuma residir em locais protegidos da luz, como árvores, arbustos, troncos, pilhas de madeira, paredes rústicas, entulhos e cachos de banana, além de se esconder dentro de calçados. 

    Os acidentes geralmente ocorrem durante a limpeza de quintais e jardins,  no manuseio de verduras e frutas (especialmente bananas) e ao calçar os pés. Trata-se de uma aranha bastante agressiva. 
   Embora a letalidade seja baixa, sua picada é extremamente dolorosa, irradiando-se pela região adjacente e persistindo por algumas horas.  A peçonha com ação neurotóxica apresenta um conjunto de substâncias tóxicas que têm ação principalmente no sistema nervoso periférico. 
   
                                                                               Quadro Clínico

   A clínica pode ser apenas de dor local  imediata com intensidade variada na zona da picada, em acidentes leves,  como também resultar mais raramente em acometimento sistêmico (em especial nos acidentes envolvendo crianças).

     O local da picada também pode se apresentar com hiperemia,  edema e sudorese,  Após há parestesia local.

   Nos casos de acometimento sistêmico, taquicardia, taquipneia,  vômitos, sudorese, palidez, cãibras, priapismo, arritmia cardíaca e edema agudo de pulmão podem ocorrer. 

​                                                                                Tratamento 

    Em acidentes leves, com acometimento exclusivamente local, recomenda-se analgesia e anestesia. Em acidentes  moderados envolvendo crianças, e em todos os casos graves ampolas de soro antiaracnídico devem ser administradas. 

                         ____________________ Loxosceles  - Aranha Marron __________________ 

 

    Embora a aranha marrom seja pequena (3 a 4 cm de comprimento),  sua peçonha pode causar efeitos devastadores, podendo ser letal.  É encontrada em tijolos, telhas, madeiras, fissuras de parede, cantos escuros,  atrás de mobilhas, em sótãos e porões.  Constrói teia irregular como “algodão esfiapado”.

      Em geral não é uma aranha agressiva, e os acidentes ocorrem quando sofre compressão, como ao se deitar na cama ou ao vestir uma roupa.  As regiões mais frequentes de picada são coxas, nádegas, tronco e braço. 

                                                                                Quadro Clínico

    O acometimento pode ser somente cutâneo, na zona de picadura, ou  cutâneo-hemolítico, que cursa conjuntamente com hemólise intravascular induzida pelo efeito tóxico-hemolítico da peçonha. 

    Em geral a picada é pouco dolorosa, podendo ter pouca valorização ou ser despercebida pelo paciente. Os sintomas locais podem surgir entre 4 a 8 horas após o contato. Costumeiramente, o  local da picada, antes eritematoso, evolui com dor e áreas de equimose e palidez. Podem  ser encontradas vesículas e bolhas. O local também pode evoluir para necrose com profundidade variável, o que pode causar complicações por infecções associadas. 

   Sintomatologia sistêmica como sensação de mal-estar, febre, náuseas e exantema cutâneo podem ocorrer.  Em casos de evolução para a forma cutâneo-hemolítica, pode haver hemoglobinúria (urina se apresenta com colocação escura) e icterícia. Nesses casos, pode haver complicações como insuficiência renal aguda e coagulação intravascular disseminada (raramente).

    Nos exames laboratoriais da forma cutânea, pode-se encontrar leucocitose com neutrofilia e aumento de enzimas  musculares. Nos casos em que há hemólise, é possível observar distintos graus de anemia, reticulocitose, aumento da LDH, redução da haptoglobina livre e bilirrubina total com predomínio da bilirrubina indireta. Em casos complicados, alterações de função renal e hemostasia estão presentes. 

                                                                                    Tratamento     

     Embora o tratamento se altere conforme a gravidade do caso, é de fundamental importância a rapidez diagnóstica, pois quanto maior for o tempo entre a picada e a administração do soro antiaracnídico, menor sua eficácia em reduzir a necrose e evitar agravamento do caso. Portanto, em quadros exclusivamente cutâneos, há um tempo limite que varia conforme cada serviço para  se utilizar o soro.  

     Em casos cutâneos,  onde há sintomas locais somados a febre, exantema, mal-estar,  preconiza-se 5 ampolas de soro como tratamento específico, somadas ao tratamento  geral com corticoesteroides, analgésicos, anti-histamínicos e debridamento cirúrgico da área necrosada. 

   Em casos cutâneo-hemolíticos, onde há também sinais de hemólise e IRA, preconiza-se administração de 10 ampolas, corticoesteroides,  correção de distúrbios eletrolíticos e hidratação parenteral. 
    

                         ____________________ Latrodectus  - Viúva-negra __________________ 

 

       Trata-se de uma aranha de tamanho pequeno (fêmea adulta mede 3 cm), cosmopolita, sedentária, encontrada em  em tocas,  frestas  e ambientes escuros. A L. geometricus apresenta coloração esverdeada ou acinzentada com manchas alaranjadas, enquanto a L. curacaviensis possui cor negra com vermelho vivo. Em geral, não costumam ser agressivas, e o acidente ocorre ao serem comprimidas. Os casos constituem menos de 0,5% dos acidentes com aranhas  notificados no Brasil. 

                                                                          Quadro Clínico

    O local picada  pode  se apresentar com pápula, edema, eritema e  dor progressiva. Sudorese também é observada. 
      O veneno da Latrodectus tem ação neurotóxica difusa sobre o SNC, medula, nervos e músculos lisos, causando em casos de manifestações sistêmicas ansiedade, agitação, sudorese, tremores, cefaleia, taqui ou bradicardia, hipertensão arterial, dispneia, contraturas musculares, náuseas, vômitos, dor abdominal, retenção urinária, priapismo, dor articular, dor em membros inferiores e  dor generalizada. 

                                                                           Tratamento
   O tratamento sintomático consiste de medicações antiálgicas, relaxantes musculares, sedativos e ansiolíticos. A soroterapia específica é indicada para casos moderados e graves.  
 

Orientações ao paciente

    A seguir estão algumas orientações retiradas no portal do Ministério da saúde referentes a ações que os pacientes  devem ou não devem fazer em casos de acidentes com aranhas. Lá também encontram-se medidas de prevenção de acidentes com aranhas. Clique neste link para acessá-lo.

   Atenção ao que NÃO se deve fazer após o acidente

  • Não fazer torniquete ou garrote;

  • Não furar, cortar, queimar, espremer ou fazer sucção no local da ferida;

  • Não aplicar folhas, pó de café ou terra para não provocar infecções;

  • Não ingerir bebida alcoólica, querosene, ou fumo, como é costume em algumas regiões do país.

        O que fazer em caso de acidente?

  • Lavar o local da picada;

  • Usar compressas mornas, pois ajudam no alívio da dor;

  • Elevar o local da mordida;

  • Procurar o serviço médico mais próximo;

  • Quando possível, levar o animal para identificação.

Acidentes por escorpiões

    Os escorpiões vivem em regiões tropicais e subtropicais do mundo, e a  maior incidência de acidentes ocorre nos meses em que há aumento de temperatura.  Abrigam-se em baixo de pedras e buracos rasos durante o dia. 

   Os gêneros que causam os mais graves acidentes em humanos são: Androctonus e Leiurus (África setentrional), Centruroides (México e Estados Unidos) e Tityus (América do Sul e Ilha de Trinidad), que abrange os escorpiões de importância médica no Brasil. 

    O veneno do escorpião é inoculado através do ferrão presente na extremidade de sua cauda. Por meio da ativação de canais de sódio, a substância promove a despolarização de terminações nervosas promovendo liberação maciça de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos, desencadeadores da sintomatologia clínica.  Embora a gravidade da maioria dos acidentes seja leve a moderada, a letalidade em crianças pode chegar a 1%. 

     Dentre as espécie do gênero  Tityus, se destacam em nosso país:

  • Escorpião-amarelo (T. serrulatus) -  representa a espécie de maior preocupação em função do maior potencial de gravidade do envenenamento e pela expansão em sua distribuição geográfica no país, facilitada por sua reprodução do tipo partenogenética e sua facilidade em se adaptar ao meio urbano;

  • Escorpião-marrom (T. bahiensis) -  encontrado na Bahia e regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil;

  • Escorpião-amarelo-do-nordeste (T. stigmurus) - espécie mais comum do Nordeste, apresentando alguns registros nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina;

  • Escorpião-preto-da-amazônia (T. obscurus) - encontrado na região Norte e Mato Grosso.

                                                                       Quadro Clínico

      Em geral o quadro cursa com alterações no local da picada: desde dor (que pode até ser insuportável),  até eventual parestesia local isolada.

        Alguns pacientes, contudo, especialmente crianças, podem evoluir para manifestações sistêmicas decorrentes da ativação do sistema nervoso autônomo induzida pelo veneno. Após intervalo de minutos até poucas horas, podem ocorrer:

      - hipo ou hipertermia e sudorese profusa;

      - náuseas, vômitos, sialorreia e, mais raramente, dor abdominal e diarreia; 

    - arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva, taquipneia, dispneia, choque e  edema pulmonar agudo; 

      -  agitação, sonolência, confusão mental, hipertonia e tremores.

       A  frequência  e intensidade dos vômitos pode indicar a gravidade do envenenamento. 

   Exames  complementares podem apresentar: hiperglicemia, hipopotassemia, leucocitose com neutrofilia ao hemograma, congestão pulmonar e aumento da área cardíaca à radiografia de tórax e  alterações no ECG e no eletrocardiograma. 

                                                                      Tratamento

   Em casos leves, onde há apenas dor, eritema, sudorese local, parestesia e piloereção, o tratamento se resume em analgesia ou anestesia para a dor somadas à observação clínica.  Em casos moderados a  graves, porém, deve-se internar o paciente e administrar o soro antiescorpiônico ou antiaracnídico, bem como oferecer os demais suportes para controle da sintomatologia e estabilidade dos sinais vitais. 

Orientações ao paciente

  • Manter jardins e quintais limpos. Evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção nas proximidades das casas;

  • Evitar folhagens densas (plantas ornamentais, trepadeiras, arbusto, bananeiras e outras) junto a paredes e muros das casas. Manter a grama aparada;

  • Limpar periodicamente os terrenos baldios vizinhos, pelo menos, numa faixa de um a dois metros junto às casas;

  • Sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, pois as aranhas e escorpiões podem se esconder neles e picam ao serem comprimidos contra o corpo;

  • Não pôr as mãos em buracos, sob pedras e troncos podres. É comum a presença de escorpiões sob dormentes da linha férrea;

  • Usar calçados e luvas de raspas de couro;

  • Como muitos destes animais apresentam hábitos noturnos, a entrada nas casas pode ser evitada vedando-se as soleiras das portas e janelas quando começar a escurecer;

    A seguir estão algumas orientações retiradas no portal do Ministério da saúde referentes a  medidas de prevenção de acidentes  com escorpiões.  Lá também encontram-se  atitudes que os pacientes  devem ou não fazer em casos de acidentes.   Clique neste link para acessá-lo.

  • Usar telas em ralos do chão, pias ou tanques;

  • Combater a proliferação de insetos, para evitar o aparecimento dos escorpiões que deles se alimentam;

  • Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos e vãos entre o forro e paredes, consertar rodapés despregados, colocar saquinhos de areia nas portas, colocar telas nas janelas;

  • Afastar as camas e berços das paredes;

  • Evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem no chão. Não pendurar roupas nas paredes; examinar roupas, principalmente camisas, blusas e calças antes de vestir; 

  • Acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes que possam ser mantidos fechados, para evitar baratas, moscas ou outros insetos de que se alimentam os escorpiões;

  • Preservar os inimigos naturais de escorpiões e aranhas: aves de hábitos noturnos (coruja, joão-bobo), lagartos e sapos.

    Recomendação de leitura > > >

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                    Referências: 
- Ministério da Saúde,

- Manual Diagnóstico de Tratamento por Acidentes de Animais Peçonhentos

- Clínica Médica USP 2ª Ed. Vol.7

Atualizado em 21/04/2018

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