Dermatozoonoses
Dermatozoonoses consistem em doenças parasitárias da pele causadas por artrópodes e helmintos, as quais muitas vezes podem causar severas complicações ao indivíduo acometido. Existem estudos estimando que até dois terços da população de favelas e comunidades carentes rurais são afetados por pelo menos uma ectoparasitose. Esta sessão visa abordar com brevidade aquelas mais prevalentes, em especial em áreas mais carentes do contexto brasileiro: pediculose, escabiose, larva migrans, tungíase e miíase.
1) Pediculose
A pediculose aborda no geral três formas clínicas: pediculose do couro cabeludo, do corpo e da região púbica.
_______________________________________ Pediculose de couro cabeludo _______________________________________
A pediculose do couro cabeludo, causada pelo Pediculus capitis (popularmente conhecido como "piolho"), é a mais comum das três (taxas de prevalência podem chegar a 40% cm comunidades carentes no país), originando frequentes epidemias em escolas e creches.
A transmissão ocorre pelo contato com cabelos contaminados, seja diretamente ou indiretamente através de chapéus, roupas, escovas e pentes de cabelo.
Os ovos do parasita são esbranquiçados e ficam aderidos à haste capilar, sendo depositados principalmente na região da nuca.
O diagnóstico é clínico e ocorre com base no prurido na cabeça, em especial na nunca, no couro cabeludo e atrás das orelhas, somado ao achado das lêndeas, os ovos do parasita, ao exame físico. Pela coçadura, pode-se encontrar também escoriações, que podem levar a infecções secundárias, sendo importante causa de impetigo. Cabe destacar que nem sempre o prurido pode estar presente e que o encontro do artrópode adulto ao exame é mais difícil.
As opções de tratamento farmacológico são diversas. Antes, porém, convém destacar que a remoção concomitante das lêndeas, bem como o manejo adequado de roupas e análise de possível infestação concomitante de familiares e colegas próximos é parte fundamental do tratamento. Abaixo seguem algumas opções terapêuticas:
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Permetrina, xampu a 1%: deixar nos cabelos por 10 minutos e enxaguar em seguida. Repetir o tratamento em 7 a 10 dias.
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Permetrina, loção a 5%: deixar no couro cabeludo à noite e lavar o cabelo no dia seguinte. Aplicar por 3 noites seguidas e retpetir o tratamento após 7 dias .
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lvermectina (6 mg/cp): 200 mcg/ Kg dose única. Repetir a dosagem após 7 a10 dias.
- OBS: para remoção das lêndeas, pode-se fazer aplicação de solução a 50% de vinagre em água morna nos cabelos e penteá-los com um pente fino.
A seguir estão algumas imagens do artrópode. Clique nas setas para alterar entre as imagens e clique nelas para maiores detalhes e informações de download.
_____________________________ Pediculose do corpo ___________________________________________________________
___________________________ Pediculose púbica ou Fitiríase ____________________________________________________
A pediculose do corpo tem como agente etiológico o Pediculus humanus e ocorre nos pacientes vivendo em extrema situação de pobreza e más condições de higiene, como moradores de rua. A falta da troca e higiene das roupas tem papel fundamental no desenvolvimento da doença, pois o artrópode reside e deposita seus ovos nas dobras e costura dos tecidos, e não na pele.
As manifestações da doença são intenso prurido e lesões de pele como máculas e pápulas eritematosas e escoriações. Como diagnóstico diferencial, devem-se excluir outras causas de prurido, como os causados por colestase, medicamentos e escabiose.
Sendo a má higiene e a não lavagem das roupas o centro do problema, o tratamento deve ser voltado para isso, com lavagem e desinfecção correta das roupas, bem como a adequada educação em saúde e higiene. Evidentemente, em situações de extrema pobreza e moradores sem teto, esse manejo pode ser muito dificil e requer abordagem muitiprofissional.
A pediculose pubiana, popularmente conhecida como chato, tem como agente o Pthirus pubis e pode ser considerada uma infecção sexualmente transmissível. Apesar do nome, a doença pode não se restringir à região pubiana, acometendo também barba, axilas, região perianal, cílios e até couro cabeludo. Também pode ser transmitida pelo compartilhamento de roupas contaminadas.
A principal queixa é o intenso prurido em região pubiana e perianal. Ao exame pode-se observar máculas causadas por substâncias irritativas injetadas pelo parasita. Como nas demais pediculoses, o prurido também pode originar escoriações e infecções secundárias.
Para o diagnóstico, deve-se procurar o Pthirus pubis na pele, principalmente encontrado no orifício do folículo piloso.
O tratamento é semelhante ao usado para as demais pediculoses e escabiose. É importante o tratamento concomitante do parceiro sexual.
Lateral view of a female body louse, Pediculus humanus
2) Escabiose
A escabiose é a infestação causada pelo artrópode da classe Arachnida, o ácaro Sarcoptes scabiei. Endêmica de países subdesenvolvidos, a escabiose se mantém como importante problema de saúde mundial, com elevada prevalência e dezenas de milhões de casos por ano. Acomete com mais frequência crianças e indivíduos em situação de pobreza, mau estado nutricional e baixa higiene pessoal.
A transmissão ocorre por contato pessoal, sendo maior em locais de grande aglomeração populacional. O acometimento de vários membros a família não é infrequente. Em adultos, convém considerar a doença como uma IST. Apesar da escabiose também acometer o cão, a transmissão do artrópode canino para o homem é eventual, e a clínica, muito limitada, pois a variação do ácaro canino não consegue completar o seu ciclo de vida na pele humana.
As manifestações clínicas tem um período de incubação de 2 a 6 semanas na primoinfecção, mas nas infecções seguintes os sintomas ocorrem após 1 a 2 dias da infecção: prurido intenso, especialmente à noite, pápulas eritematosas, em geral escoriadas, com destaque para a típica lesão em túnel (que representa o trajeto realizado pela fêmea durante invasão da epiderme e depósito de seus ovos) composta por uma saliência linear e uma pápula na extremidade (onde habitou ou habita a fêmea). Como nas demais doenças dessa sessão, infecções secundárias não são raras.
A distribuição característica das lesões acomete punhos, região interdigital de mãos e pés, pregas axilares, cintura, nádegas, mama, região inguinal e genitália masculina.
O diagnóstico costumeiramente será clínico. Em geral é feito pela tríade: leões características acima descritas, intenso prurido referido pelo paciente e epidemiologia a favor da doença. Em casos de dúvida, pode-se raspar as lesões papulosas e analisar o material microscopicamente à procura do artrópode, mas o resultado negativo do exame não é superior à suspeita clínica.
O Tratamento deve ser estendido a todos os que tiverem contato frequente com o paciente, mesmo na inexistência de sintomas. A lavagem adequada de roupas, secadas ao sol ou pelo calor e passadas a ferro, bem como a correta higienização de fômites são partes imprescindíveis do tratamento.
Como tratamento tópico preconizado, se destacada a permetrina, loção a 5%, um agente escabicida que deve ser aplicado em todo o corpo antes de dormir e retirado ao banho pela manhã, por 3 dias consecutivos com repetição após 7 dias (pois não eliminam os ovos). Em crianças, a aplicação também deverá ser feita em face e couro cabeludo. Pode ser usada em adultos e crianças a partir dos 3 meses. É menos irritante e possui odor menos desagradável.
O Enxofre precipitado (formulado a 5 a 6% em vaselina) pode ser uma alternativa em crianças com menos de 2 meses de idade, grávidas e nutrizes, mas necessita ser utilizado por 3 noites, repetindo- se em 5 dias.
Sistemicamente, a invermectina (6mg/cp) na dose 200 mcg/kg/dia, via oral em dose única com repetição em 7 a 14 dias se mostra eficaz. Não pode , porém, ser utilizada em crianças com menos de 5 anos de idade., crianças com menos de 15 kg, na gestação, na amamentação, nem em indivíduos com afecções do sistema nervoso central.